Sobre as Vigilias

As Vigílias na prainha de Copacabana e na Retomada Mbya Guarani da Ponta do Arado

Com o aumento da violência por parte dos seguranças da Fazenda, assim como da perseguição política e constante repressão policial em direção aos Mbya Guarani e seus apoiadores, tornou-se necessário instaurar práticas que visam a segurança da comunidade. 
Após os ataques com armas de fogo que os Guarani enfrentaram na Ponta do Arado em janeiro, várias pessoas tomaram a iniciativa de apoiar de mais perto a comunidade. Organizaram-se vigílias primeiramente na retomada da Ponta do Arado até que o juiz estadual Osmar de Aguiar Pacheco autorizou uma liminar absurda que impediria a presença de qualquer pessoa que não fosse Guarani na Ponta do Arado. Essa liminar também proibia a chegada de qualquer barco até a praia onde a comunidade indígena ficou cercada, impedindo-os de receberem qualquer forma de ajuda em relação à infraestrutura: comida, lonas, e até água (suspeita-se que os poços de água usados pelos Guarani tenham sido envenenados pelos jagunços). A partir de então, as vigílias aconteceram na praia de Copacabana, na frente da Retomada. 
Foram momentos de reconhecimento, da construção de uma amizade e da confiança mutua, de cumplicidade e compartilhamento, de trocas e cuidado, e também de profunda reflexão e construção coletiva. Foi principalmente durante as vigílias que a luta junto com os Guarani foi crescendo e se fortalecendo. Mas, além disso, elas foram efetivas no seu objetivo de fazer recuar os jagunços. Em várias ocasiões, a simples presença de mais pessoas, seja na prainha, seja na retomada, impediu que os jagunços realizassem mais ataques contra os Guarani. 
Hoje, as vigílias tornaram-se menos imprescindíveis, pois as liminares do nojento juiz estadual caíram após o processo judicial —no qual se insere a Retomada— ser transferido para a Justiça Federal. Porém, os seguranças seguem presentes, e apesar da situação ser um pouco mais clemente, os Guarani continuam reclusos num espaço mínimo sem ter acesso à terra para plantar, colher e caçar. 

A solidariedade vai se construindo e se manifesta de várias formas. Depende de nós escutar aos Guarani e encontrarmos juntos as formas mais efetivas e estratégicas de ação para somar nessa luta pela retomada do seu território ancestral e na (re)construção da sua autonomia. Essa luta se inscreve também num combate contra o Capital e seus interesses e por extensão contra o Estado e suas instituições que historicamente só desenvolveram políticas que visavam a dependência e a submissão dos povos indígenas ao seu poder.

 

“Antigamente, qualquer pessoa podia entrar em qualquer pedaço de mato. Não precisava marcar. Essa lei foi o português que fez.”
 Timóteo, liderança política-espiritual da Retomada da Ponta do Arado.
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